segunda-feira, 14 de junho de 2010

Acordei. Não estava transformado em um repugnante inseto, mas ainda assim não era o eu que deitara naquela cama na noite anterior. Escovei meus ainda humanos dentes pensando em trivialidades que podiam ser minhas ou de qualquer outro que vivesse no mesmo planeta. Olhei pela janela, assegurei-me que ainda estava na Terra de ontem. Ufa. Paletó, chapéu, relógio. Peguei o bonde e súbito me vieram aquelas filosofias baratas de transporte público, quando os ainda tímidos raios do Sol refletem sua imagem na janela. Pensava na afetividade, acho. Digo acho porque não estou certo de que era sobre isso que pensava, minhas divagações sempre foram confusas e contraditórias. Maldita histeroneurastenia. Desci do ônibus, comprei uma Coca-Cola na máquina: Tshhhh-pá!
A escola nunca me irritou ou cansou. É verdade que nunca fui um aluno muito aplicado, mas sempre considerei importante saber sobre o mundo que me cerca. Achava a ignorância um mal a ser violentamente combatido, tal era sua disseminação na sociedade. Existi pacientemente na minha carteira por seis longas horas, entre versos e bilhetes e olhares e risadas. Um dia típico para o meu milésimo eu do mês. Cheguei à conclusão, e espero que não tarde demais, de que as pessoas são passageiras: Nossas mudanças de visão e pensamentos nada mais são do que pessoas nascendo e envelhecendo dentro da nossa casca. Nosso exoesqueleto. Não somos, afinal, repugnantes insetos?
O sinal tocou, e com ele veio o futuro. Desligada a lousa multi-mídia, ingerida minha ração, teletransportei-me para casa e deitei. As pessoas já não pensam. Era uma lástima quando a maioria era ignorante, mas a acefalia conformada e paciente é o fim. Antes de dormir costumava repassar mentalmente o dia que se passou. Quando acordei o que me preocupava era o amor. Pela tarde tomei as dores da humanidade frente à alienação e ignorância. E agora, no futuro longínquo, não penso mais. Sei que não penso. Penso que não penso. Há metafísica o bastante em não pensar em nada, é verdade. E dentro de mim morria uma ingênua criança.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Me espia, cigana

Mens sana.
Me estranha?
Menstrua, mens tua
Mensagem, a rua
Me estranha?
Mens sana.