segunda-feira, 24 de maio de 2010

Soneto Simbolista

Agudo gosto amargo me afoga
Quando, súbito, pelo esôfago me vem
Um mal, que bem me é também
Que dos valores comuns me revoga

Punhal invisível da mão do além
Que me transpassa como quem afaga
Até onde pode consolar uma adaga?
Observo o mundano com desdém

Violentas desfeitas diferem divergem
Divago sobre temas teorias medos
E, é triste, as conclusões não emergem

O outono infindo, frio, frívolo de Eros
Mantém todas as respostas que urgem
Afundadas na incompreensão dos crepúsculos

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Não é isso que quero para mim. Não quero ter que me forçar bem estar e felicidade para relevar meus problemas, minhas perturbações. Não quero depender e me dedicar a pessoas que nada têm de criativo ou apreciável. Não quero mais as infinitas reflexões que nada têm me ajudado na compreensão do que está à minha volta. Não quero mais as incessantes dúvidas e os atos contraditórios, nem a insegurança que me assombra. Quero achar algo que valha a pena, algo que cure. Algo simples e singelo, porém grandioso. Quero achar um motivo, uma espinha dorsal, algo que me sustente e me exija, fortalecendo-me. O fim dessa bolha em que vivo, minha integração com o mundo que vejo com olhos tão diferentes dos outros, ou pelo menos um meio termo, uma trégua entre os opostos. Quero poder relevar detalhes e nuances mínimas que me perturbam, viver e não só observar os outros com arrogância e criticismo hipócrita. Love is all you need?

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Não que seja digno de se postar algo assim, mas...

Nunca me dei bem com sonetos
Pois a métrica me é complicada
Penso nas rimas e ponho os versos
Quem diria! A estrofe está terminada

Neste quarteto agora me desgraço
Como Julieta que encontrava Romeu
Não no jardim, mas sim no terraço
Ela, cedo ou tarde, também se fudeu.

Neste soneto só me falta um tema
Algo trágico, heróico ou festivo
Já se foi um terceto e isso é problema

Pois da escrita sou agente passivo
Uma marionete que escreve o poema
Já era, acabei este soneto sem motivo

De volta para o futuro

O futuro deve ser como os filmes: um universo desconhecido, pessoas estranhas e situações que me parecem de outra vida que não a minha. Tenho medo de não conhecer atualmente ninguém que faça parte do meu futuro, tenho medo de ter que começar do zero algo que não sei bem o que é. A solidão que tanto me atrai creio que no plano real me desesperaria. Não quero crer que há males que vêm para o bem, nem que há outra rotina além da atual. A idéia de outra vida em uma mesma existência é algo que me deprime profundamente, me faz pensar que sou em vão e que em breve perderei a aurora da minha vida, que os anos não trazem mais. O padrão ampulheta que seguimos é tão assustadoramente insensível que me faz querer desistir de esgotar a areia, ou mesmo de vê-la pela metade. E soluço com o mais sólido embasamento científico: de amizades que foram e não são mais, de momentos que existiram e não voltam. É por essas e outras que, cada vez mais triste, afirmo: o futuro chegou, e vem varrendo minha história como o vento varre a areia do deserto.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Tsunami?

na verdade só estou despejando aqui alguns (todos) os textos que escrevi recentemente então acabei dando uma overdose. Preparem-se para loooongos períodos sem atualizações.

Às vezes sou cinza de cigarro, a boiar pela existência sem rumo. Às vezes sou faísca de isqueiro, determinada e explosiva. Às vezes sou papel de seda, destruído passivamente, prova efêmera da insanidade. Sou brisa passageira, idéia fixa, presença ausente, olhar atento e mente honestamente mentirosa. Sou lá e cá, Ariel e Caliban, sobriedade entorpecida pelo fardo da existência. Sou cordeiro em pele de lobo, melodia fora do tom e fora do tempo, fora do mundo, fora de si.
Sou, sem mais delongas, algo vago, insubstancial e frágil, que com um bater de asas da imaginação pode partir-se em infinitas facetas.
Definho lentamente, de dores secretas e sofriveis gritos sufocados no peito. Me desfaço em uma rotina blasè e noir, como os raios de sol da nostalgica tarde de outono entrando pela fresta da veneziana... me jogo no sofá antiquado e todo o peso do pensamento que insistentemente me assombra cai sobre (meus ombros? Minha mente?) mim. Minh'alma sublima vagarosa e maldosamente por meus poros e as idéias me soam cada vez mais distantes, longinquas como um oasis de razão em meio ao deserto de incompreensão da minha propria natureza. Meus surtos byronianos florecem pela noite, como soturna vitória-régia, e se vão com o orvalho da manhã, (des)mascarando-me. Tenho outros valores, é bem verdade, e talvez jamais me conforme; tenho outras ambições, e talvez jamais as alcance; tenho outras paixões, e talvez jamais as encontre. E definho...


isso é pra vocês terem uma idéia do que vai aparecer por aqui enquanto isso durar (e eu não apostaria em mais de um mês). Run for your life if you can, little girl!

Alguns avisos de segurança antes do filme

Nossa sala de projeção conta com hidrantes estrategicamente posicionados, luzes de emergência que se acenderão automaticamente em caso de falta de energia e portas anti-pânico corta fogo. Nossa brigada de incêndio altamente qualificada está pronta (sempre me perguntei se eles ficam em algum armário secreto, nunca vi um 'brigueiro' de incêndio) para agir ao menor sinal de fogo. Os textos aqui exibidos são ataques geralmente noturnos, cuja publicação é descabida e deve gerar idéias equivocadas, as quais lamento, mas não posso impedir. Não sou complexado, não sou deprimido e nem suicida. Só me sinto na obrigação de registrar o que julgo merecedor de ser registrado fora de mim. Bom filme!