domingo, 31 de outubro de 2010

e o que passou
e o que sangrou
o que feriu
já passou

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

O Mundo é n-negativa
Em progressão geométrica infinita
É imagem imprópria, antes do foco
E digo isso de experimentos in loco

O vazio que me não-habita
É calado, mas também grita
Se me vêm compreensões as estoco
Nelas não creio, nelas não toco

E se porventura me vêm idéias
Ah, que maravilha! A Felicidade!
Nada há mais verdadeiro que elas

Não respeitam raça, tampouco idade
Vêm nas praças, nos teatros, nas celas
Vêm sempre, e o melhor, sem finalidade!

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Ao Sr. Examinador

O Ministério do Absurdo adverte, a todos interessados, que já não é mais possível! Se foram, ralo abaixo, todas as possibilidades, é verdade. Se esvaíram as chances, se esgotaram as oportunidades. Tudo aquilo que podia ser já não é mais. Não é, não será, nunca foi. E o que foi, que pena, estava errado: estava errado existir, pensar. A literatura e a filosofia não passaram de genocídio frio e cruel, camuflado, sinistro, lento. Só se devia ser feliz e, contra si, a humanidade definiu a inteligência. A cognição. O avanço. Ah, mas que infortúnio foi essa idéia. O homem quis explicar, coitado. Explicar o que? Não há o que ser explicado. Não há o que ser entendido. Não há nada, além do nada. A piada coletiva, a Igreja, tentou explicar por poucos o nada para muitos. O mais engraçado é que aparentemente deu certo. Deixa eles. Aí o Homem foi indo, sempre meio capenga, e no meio da esperteza internacional, o Homem até que não estava tão mal. Mas um dia, com suficiente sofrimento e reflexão, se percebeu o Grande Mal: o Mundo. Ah, mundo... O mundo era assim, na mente do Homem que pensou: era ridiculamente controverso, ao passo que dava a entender que quem mais soubesse sobre ele melhor seria e ao mesmo tempo enlouquecia quem o ia entendendo, sempre aos poucos, sempre meio na corda bamba. O Mundo não dava pra saber se era o mesmo para todos os Homens, não dava pra saber o que era o Mundo. Não dava pra saber se se sabia alguma coisa, mas dava pra saber cada vez mais que não se devia saber nada. Porque quem ia sabendo, ou acreditando que sabia, ia ficando meio esquisito, meio cinza, meio murcho, até que um dia morria. E não teve um único que não morresse. A questão é que tinham alguns Homens que se faziam de entendedores tão bem, que os outros Homens acreditavam que eles entendiam alguma coisa. E foi de mentira em mentira que se construiram máquinas monstruosas, e os homens horrendos iam acreditando entender cada vez mais o Mundo sem saber o que era entender. E na mente do homem que pensou, após esse interlúdio explicativo, se entendeu de mentirinha outra coisa: quanto mais se entendia, menos feliz se era. E era de tristeza que se morria. Aí o Homem que pensou pensou: se se morre de pensar, e é tudo meio esquisito, porque a gente pensa?

E é esse o chamado de greve geral que se encontra afixado em cada um dos meus neurônios, e em cada esquina perigosa da minha consciência.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

A ignorância é uma benção
Já dizia o sábio, era sábio triste
Que sabia que toda contentação
Em mente pensante inexiste

Sabia que o mundo é ingratidão
E que quanto mais se é inteligente
Que quanto mais se tem noção
Mais sofre o espírito da gente

Outro, mais sábio e mais maltrapilho:
"Estamos predestinados nessa aventura!
Seguimos apenas por um ou outro trilho!"

A felicidade pura:
Sabe ler, meu filho?
Sei não, só as figura

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Só preciso de uma ponte alta
Ou de um revólver nédio
Para deixar esse mundo médio
E fazer sentir a minha falta

Só preciso de algum prédio
Subo no telhado e olho em volta
Não foi amor, nem foi revolta
Em 4 segundos me livro do tédio

Conforme desço ao concreto
Subo ao paraíso, glória ou céu
Qualquer que seja o reino secreto

Das minhas retinas se fez o véu
Não se envolva, não crie afeto
Aqui não se é juiz, mas sim réu