terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Mo
nótono
rfina
rri
De tédio.

domingo, 19 de dezembro de 2010

não sei se vale a pena
ter certeza das coisas
a gente é que morre
ou é a vida que mata?

domingo, 31 de outubro de 2010

e o que passou
e o que sangrou
o que feriu
já passou

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

O Mundo é n-negativa
Em progressão geométrica infinita
É imagem imprópria, antes do foco
E digo isso de experimentos in loco

O vazio que me não-habita
É calado, mas também grita
Se me vêm compreensões as estoco
Nelas não creio, nelas não toco

E se porventura me vêm idéias
Ah, que maravilha! A Felicidade!
Nada há mais verdadeiro que elas

Não respeitam raça, tampouco idade
Vêm nas praças, nos teatros, nas celas
Vêm sempre, e o melhor, sem finalidade!

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Ao Sr. Examinador

O Ministério do Absurdo adverte, a todos interessados, que já não é mais possível! Se foram, ralo abaixo, todas as possibilidades, é verdade. Se esvaíram as chances, se esgotaram as oportunidades. Tudo aquilo que podia ser já não é mais. Não é, não será, nunca foi. E o que foi, que pena, estava errado: estava errado existir, pensar. A literatura e a filosofia não passaram de genocídio frio e cruel, camuflado, sinistro, lento. Só se devia ser feliz e, contra si, a humanidade definiu a inteligência. A cognição. O avanço. Ah, mas que infortúnio foi essa idéia. O homem quis explicar, coitado. Explicar o que? Não há o que ser explicado. Não há o que ser entendido. Não há nada, além do nada. A piada coletiva, a Igreja, tentou explicar por poucos o nada para muitos. O mais engraçado é que aparentemente deu certo. Deixa eles. Aí o Homem foi indo, sempre meio capenga, e no meio da esperteza internacional, o Homem até que não estava tão mal. Mas um dia, com suficiente sofrimento e reflexão, se percebeu o Grande Mal: o Mundo. Ah, mundo... O mundo era assim, na mente do Homem que pensou: era ridiculamente controverso, ao passo que dava a entender que quem mais soubesse sobre ele melhor seria e ao mesmo tempo enlouquecia quem o ia entendendo, sempre aos poucos, sempre meio na corda bamba. O Mundo não dava pra saber se era o mesmo para todos os Homens, não dava pra saber o que era o Mundo. Não dava pra saber se se sabia alguma coisa, mas dava pra saber cada vez mais que não se devia saber nada. Porque quem ia sabendo, ou acreditando que sabia, ia ficando meio esquisito, meio cinza, meio murcho, até que um dia morria. E não teve um único que não morresse. A questão é que tinham alguns Homens que se faziam de entendedores tão bem, que os outros Homens acreditavam que eles entendiam alguma coisa. E foi de mentira em mentira que se construiram máquinas monstruosas, e os homens horrendos iam acreditando entender cada vez mais o Mundo sem saber o que era entender. E na mente do homem que pensou, após esse interlúdio explicativo, se entendeu de mentirinha outra coisa: quanto mais se entendia, menos feliz se era. E era de tristeza que se morria. Aí o Homem que pensou pensou: se se morre de pensar, e é tudo meio esquisito, porque a gente pensa?

E é esse o chamado de greve geral que se encontra afixado em cada um dos meus neurônios, e em cada esquina perigosa da minha consciência.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

A ignorância é uma benção
Já dizia o sábio, era sábio triste
Que sabia que toda contentação
Em mente pensante inexiste

Sabia que o mundo é ingratidão
E que quanto mais se é inteligente
Que quanto mais se tem noção
Mais sofre o espírito da gente

Outro, mais sábio e mais maltrapilho:
"Estamos predestinados nessa aventura!
Seguimos apenas por um ou outro trilho!"

A felicidade pura:
Sabe ler, meu filho?
Sei não, só as figura

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Só preciso de uma ponte alta
Ou de um revólver nédio
Para deixar esse mundo médio
E fazer sentir a minha falta

Só preciso de algum prédio
Subo no telhado e olho em volta
Não foi amor, nem foi revolta
Em 4 segundos me livro do tédio

Conforme desço ao concreto
Subo ao paraíso, glória ou céu
Qualquer que seja o reino secreto

Das minhas retinas se fez o véu
Não se envolva, não crie afeto
Aqui não se é juiz, mas sim réu

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Esse verso acaba com A
E esse verso termina com B
Metalinguagem é daora
Quando não se tem o que escrever

Já fudi a métrica, que se dane
Esse poema é mó brisa errada
Ainda vou parar em Cannes
Com meus quartetos de vanguarda

Os tercetos tem rimas C D C
Mas podem ser também C C D
E depois vem o último, D D C

Basta alternar: C e D, D e C
E depois os combinar: p!/n!(n-p)!
Na real ambos C e D tem tônica E

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Em branco

De tudo que não é feito
De poemas não escritos
De quadros não pintados
De esculturas não talhadas
De filmes não filmados
De cigarros não fumados
De livros não lidos
De erros não cometidos
De acertos não acertados
E de sóis não raiados
De tudo isso é feita
A nossa vontade
A nossa maldade
A nossa realidade
Dessa anti matéria
Vêm nossas idéias
Que só rimam com geléias
De todo esse vazio por fazer
Emana a genialidade
O potencial da humanidade
Desse escuro sai a claridade
A luz da criatividade
Depois de tanto dade
De tanta expressividade
Percebo que é no inexistente
É o que habita o inconsistente
Tudo aquilo que é impotente
Frustrado, murcho, encolhido
Tudo que poderia ser escolhido
Desenvolvido e produzido
Tudo aquilo que presta
Tudo que vale a pena
Aquilo que evolui, que refina
Que enobrece e edifica
Está fadado ao quase
Ao quem sabe e o porque não
O outra hora e o será em vão
Os poetas ignorantes
Os físicos insensíveis
Os deuses insensatos
Os homens infelizes
De planos infalíveis


Tá todo mundo na merda.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Postulados da Brisa Martiniana

1º - Trocar palavras entre orações de maneira cômica (Ex: ''essa brisa é mó mina errada);
2º - Escolher o pior momento pra falar e ser cortado por alguém que leva seu interlocutor para ver outra coisa;
3º - Ser antisocial e reflexivo, com alguns momentos de dança frenética nos intervalos;
4º - Fumar um cigarro quando não tiver nada pra fazer nem ninguém pra conversar (ou seja, frequentemente);
5º - Ir pegar uma cerveja quando começar a se sentir mal;
6º - Anotar brisas no celular como se fossem epifanias geniais e se divertir no dia seguinte com elas;
7º - Escolher músicas simplesmente para ouvi-las, sem a menor intenção de dança-las;
8º - Dançar músicas simplesmente por dança-las, sem a menor intenção de ouvi-las;
9º - Cantar músicas que ninguém quer ouvir pelo simples prazer de saber a letra;

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Jeremias era ignorante
Adolfo pensava demais
O primeiro tinha amante
O segundo não amou jamais

Jeremias era feliz, e mais:
Já trepou em cima da estante
Adolfo mal falava com os pais:
Virgem em um mundo debutante

Um dia os dois por acaso se cruzaram
Num recinto mui deserto, frio e escuro
Um impulso passou veloz, esmoreceram

Não avistavam uma árvore ou muro
Estavam em um cérebro, perceberam
Eram a consciência de alguém meio puro

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O Homem se gaba
De ser tão racional
Mas ele não passa
De um outro animal

O Homem se apressa
Em consumir gasolina
Mas o diesel não passa
De um tipo de adrenalina

O Homem diz ter criado
Máquinas mil e até o Estado
Mas ambos são tão somente
Armas do homem que mente

Porque no fundo a máquina
Funciona tal qual os homens:
Lubrificantes, porcas, ferrugens
A Criação sempre foi democrática

Os tais impulsos elétricos
Fazem funcionar os cérebros
Mas também giram as correias
As engrenagens e as esteiras

E na verdade o Estado
É apenas uma ilusão
Há homens em comunhão
Onde um é criado
E o outro é patrão?

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Tratado sobre a mecanização da humanidade

Dizem que o que separa o homem do animal é o raciocínio. Não duvido. No entanto, estamos assustadoramente perto das máquinas. Nós criamos as máquinas. Dizem que Deus nos criou à sua imagem e semelhança. Aparentemente a humanidade resolveu brincar de Deus: o Homem, afinal, não é movido a impulsos elétricos? Não funciona por movimentos mecânicos, alavancas e contrações? Não necessita de combustível? Não emperra? Nossos nervos são idênticos a um circuito impresso, nossos músculos e ossos estão para nós exatamente como as engrenagens e pistões estão para uma máquina. Nosso alimento não passa de substâncias necessárias ao funcionamento do todo. Qualquer semelhança com o diesel seria mera coincidência?
Deixemos de lado agora nossas semelhanças com nossas criações, e pensemos: motores movem, turbinas geram, pistões comprimem. Se somos uma máquina, qual seria nossa função? Retomando a introdução, acho que não há explicação melhor senão a seguinte: raciocinar. Somos máquinas feitas para pensar, para elaborar. Em nossa evolução acabamos criando estruturas que usam nossos princípios, talvez por acidente, talvez por capricho do inconsciente. Talvez por algum motivo substancial. Qualquer que seja o motivo, basta uma breve olhada ao redor para perceber que a maioria dos bilhões de máquinas humanas que povoam nossa imensa fábrica está com algum defeito. Pensar, se já foi algo valorizado, hoje é quase abominado.
As consequências? Nossa fábrica está superaquecida, os setores produtivos estão extremamente mal organizados e distribuídos. De que adianta a esteira onde se apertam os parafusos estar perfeitamente lubrificada se a divisão que rosqueia as porcas está travada? A produção não progride, é simples. E no que consiste a produção humana? Criação intelectual. O mundo como está ficará estagnado até que a fábrica esteja em chamas, algumas partes serem destruídas ou algo similar. Só com o equilíbrio entre todas as etapas é que de fato evoluiremos. Se é uma evolução limitada, não sei. Mas com certeza ela não atingiu seu ápice, nem algo perto dele. Talvez quando terminarmos passemos a outra dimensão, como quem passa de fase em um jogo. Mas aí entramos no domínio da imaginação, e a Igreja sempre estraga essa parte.
Por ora, basta que as partições mais tecnológicas e as menos desenvolvidas se harmonizem de modo que todas as máquinas estimulem seus componentes ao máximo, disparando impulsos elétricos e movimentando suas peças para o futuro. Qual será ele?

domingo, 15 de agosto de 2010

Tratado sobre o comportamento juvenil

Parem! Não podem ver? Não vêem como suas vidas são insignificantes e não vão deixar de ser se continuarem agindo assim? Parem! Percebam que a vida envolve aprendizado, evolução! Estudem, entendam! Não basta ficar bêbado uma vez por semana para aproveitar a existência! Pelo amor de Deus, parem! Observem os valores que vocês adotaram, principalmente no âmbito amoroso! Vejam como suas vidas estão construídas sobre alicerces imorais e como vocês aceitam e acreditam piamente que é assim que deve ser! Repensem o que vocês querem, se é que já o fizeram alguma vez! Parem de agir como pedaços de plástico! Desenvolvam o intelecto, e por favor não acreditem que cultura basta para alimentar o cerébro! Filmes franceses NÃO SÃO o ápice da sua vida, e de que adianta assisti-los se vocês não têm uma gota de criticismo? É igualmente importante saber física e matemática! Compreendam o mundo que os cerca para então tentar entender a si próprios, e PAREM de agir como se entendessem ambos profundamente! Entendam de uma vez por todas que beleza não é lápis no olho e salto alto, não podem ver que não vão a lugar algum desse jeito? Parem de tentar ser amigos de todos e consigam ser amigos de poucos! Definam suas preferências, seus pontos de vista e lapidem-os! Compreendam os dos outros! Discutam-os! Parem e percebam como um círculo social pode evoluir a partir do momento em que as pessoas nele incluídas elevam seu nível intelectual e tornam as interações muito mais produtivas! Percebam como as pessoas pelas quais vocês se atraem (e digo isso para ambos os lados) são medíocres como você, falando besteiras com ar de sabedoria e discutindo assuntos que não lhes tocam, usando palavras que lhes são estranhas, para passar uma imagem que lhes é distorcida Parem, antes que seja tarde, e mudem!

sábado, 14 de agosto de 2010

Batem em retirada os retirantes
Do purgatório nordestino onde
Nada vai, nada vem, tudo seca
Tudo fica e espera, quieto, esperto
Vão os candangos (futuro da nação?)
O soldado é amarelo
O horizonte é amarelo
Assim como o amarelão
O sol que racha
O sol(o) deste Sertão
Bate forte, incontinenti
Ad infinitum, porque não?
Cangaço, calangos, capangas
Estão todos esses cansados
Esperando a chuva do verão

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Não, porque é nois, né

Ó aguardente, mal da minha vida!
Por quantas noites frias e bravias
Não me arrastei de maneira sofrida
Jogado no chão, vomitando em pias?

Quantas árvores não chamei de "querida"
Ou grossos mulherões vi muitíssimo esguias
Fico como Moisés chegando à terra prometida
Tudo se releva com o álcool - até as estrias!

Brindemos à isso, aquilo ou tudo junto
Depois do terceiro brinde não importa
Nascimento, batismo, velório de defunto

A linha na qual ando se constrói toda torta
O quatro que faço é todo assim disjunto
E minha fala, meio enrolada, meio morta.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

É triste que a vida valha tanto. Andei me perguntando se seria possível ela não ser nosso bem mais valioso, mas percebi que ou não tem jeito ou é muita filosofia pra mim. Se pudessemos escolher nascer, ou então ter mais de uma vida... Mas seria necessário um número certo, talvez variável de ressureições... Todo um código que regesse nosso direito de mandar tudo às favas de vez em quando. O suicídio seria um alerta para os outros: "não estou gostando disso aqui!", mas nada além disso. Nada final. Talvez perdesse seu impacto, milhares de suicídios por dia... Por isso o limite de vidas, para não banalizar. Haveria quem vivesse, por exemplo, 7 vezes até os 80 anos. E quem viveria uma vez até os 20 e passaria as outras rapidamente, querendo o fim. Haveria quem ia corrigir seus erros, quem os ia repetir. Outro ponto delicado seria o seguinte: a cada vida se nasce em outro corpo, como um bebê? Ou seu corpo se reergueria das cinzas na idade que você interrompeu sua existência? Haveriam bicentenários, muito sábios e rabugentos. Haveriam filósofos adolescentes, pois quando se conhece a morte deve-se conhecer muito além do que se conhece na vida. Surgiriam novas profissões: psicólogos post-mortem, etc. Novas religiões, talvez muito mais acuradas agora que se saberia para onde vamos. Peço a Deus, portanto, que abra uma emenda constitucional nas Leis. Novos horizontes seriam abertos, novas possibilidades criadas. A economia seria dinamizada e os impactos ambientais reduzidos. Com a desvalorização da Vida, as moedas nacionais ganhariam força, os mercados cresceriam. A criminalidade seria reduzida, a expectativa de vida aumentaria. A pena de morte seria abolida, o câncer e a aids combatidos. É espantoso que quem quer que nos conduza nunca tenha pensado em tamanho investimento no seu meio de produção. Zumbis de todo o mundo, uni-vos!

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Acordei. Não estava transformado em um repugnante inseto, mas ainda assim não era o eu que deitara naquela cama na noite anterior. Escovei meus ainda humanos dentes pensando em trivialidades que podiam ser minhas ou de qualquer outro que vivesse no mesmo planeta. Olhei pela janela, assegurei-me que ainda estava na Terra de ontem. Ufa. Paletó, chapéu, relógio. Peguei o bonde e súbito me vieram aquelas filosofias baratas de transporte público, quando os ainda tímidos raios do Sol refletem sua imagem na janela. Pensava na afetividade, acho. Digo acho porque não estou certo de que era sobre isso que pensava, minhas divagações sempre foram confusas e contraditórias. Maldita histeroneurastenia. Desci do ônibus, comprei uma Coca-Cola na máquina: Tshhhh-pá!
A escola nunca me irritou ou cansou. É verdade que nunca fui um aluno muito aplicado, mas sempre considerei importante saber sobre o mundo que me cerca. Achava a ignorância um mal a ser violentamente combatido, tal era sua disseminação na sociedade. Existi pacientemente na minha carteira por seis longas horas, entre versos e bilhetes e olhares e risadas. Um dia típico para o meu milésimo eu do mês. Cheguei à conclusão, e espero que não tarde demais, de que as pessoas são passageiras: Nossas mudanças de visão e pensamentos nada mais são do que pessoas nascendo e envelhecendo dentro da nossa casca. Nosso exoesqueleto. Não somos, afinal, repugnantes insetos?
O sinal tocou, e com ele veio o futuro. Desligada a lousa multi-mídia, ingerida minha ração, teletransportei-me para casa e deitei. As pessoas já não pensam. Era uma lástima quando a maioria era ignorante, mas a acefalia conformada e paciente é o fim. Antes de dormir costumava repassar mentalmente o dia que se passou. Quando acordei o que me preocupava era o amor. Pela tarde tomei as dores da humanidade frente à alienação e ignorância. E agora, no futuro longínquo, não penso mais. Sei que não penso. Penso que não penso. Há metafísica o bastante em não pensar em nada, é verdade. E dentro de mim morria uma ingênua criança.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Me espia, cigana

Mens sana.
Me estranha?
Menstrua, mens tua
Mensagem, a rua
Me estranha?
Mens sana.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Soneto Simbolista

Agudo gosto amargo me afoga
Quando, súbito, pelo esôfago me vem
Um mal, que bem me é também
Que dos valores comuns me revoga

Punhal invisível da mão do além
Que me transpassa como quem afaga
Até onde pode consolar uma adaga?
Observo o mundano com desdém

Violentas desfeitas diferem divergem
Divago sobre temas teorias medos
E, é triste, as conclusões não emergem

O outono infindo, frio, frívolo de Eros
Mantém todas as respostas que urgem
Afundadas na incompreensão dos crepúsculos

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Não é isso que quero para mim. Não quero ter que me forçar bem estar e felicidade para relevar meus problemas, minhas perturbações. Não quero depender e me dedicar a pessoas que nada têm de criativo ou apreciável. Não quero mais as infinitas reflexões que nada têm me ajudado na compreensão do que está à minha volta. Não quero mais as incessantes dúvidas e os atos contraditórios, nem a insegurança que me assombra. Quero achar algo que valha a pena, algo que cure. Algo simples e singelo, porém grandioso. Quero achar um motivo, uma espinha dorsal, algo que me sustente e me exija, fortalecendo-me. O fim dessa bolha em que vivo, minha integração com o mundo que vejo com olhos tão diferentes dos outros, ou pelo menos um meio termo, uma trégua entre os opostos. Quero poder relevar detalhes e nuances mínimas que me perturbam, viver e não só observar os outros com arrogância e criticismo hipócrita. Love is all you need?

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Não que seja digno de se postar algo assim, mas...

Nunca me dei bem com sonetos
Pois a métrica me é complicada
Penso nas rimas e ponho os versos
Quem diria! A estrofe está terminada

Neste quarteto agora me desgraço
Como Julieta que encontrava Romeu
Não no jardim, mas sim no terraço
Ela, cedo ou tarde, também se fudeu.

Neste soneto só me falta um tema
Algo trágico, heróico ou festivo
Já se foi um terceto e isso é problema

Pois da escrita sou agente passivo
Uma marionete que escreve o poema
Já era, acabei este soneto sem motivo

De volta para o futuro

O futuro deve ser como os filmes: um universo desconhecido, pessoas estranhas e situações que me parecem de outra vida que não a minha. Tenho medo de não conhecer atualmente ninguém que faça parte do meu futuro, tenho medo de ter que começar do zero algo que não sei bem o que é. A solidão que tanto me atrai creio que no plano real me desesperaria. Não quero crer que há males que vêm para o bem, nem que há outra rotina além da atual. A idéia de outra vida em uma mesma existência é algo que me deprime profundamente, me faz pensar que sou em vão e que em breve perderei a aurora da minha vida, que os anos não trazem mais. O padrão ampulheta que seguimos é tão assustadoramente insensível que me faz querer desistir de esgotar a areia, ou mesmo de vê-la pela metade. E soluço com o mais sólido embasamento científico: de amizades que foram e não são mais, de momentos que existiram e não voltam. É por essas e outras que, cada vez mais triste, afirmo: o futuro chegou, e vem varrendo minha história como o vento varre a areia do deserto.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Tsunami?

na verdade só estou despejando aqui alguns (todos) os textos que escrevi recentemente então acabei dando uma overdose. Preparem-se para loooongos períodos sem atualizações.

Às vezes sou cinza de cigarro, a boiar pela existência sem rumo. Às vezes sou faísca de isqueiro, determinada e explosiva. Às vezes sou papel de seda, destruído passivamente, prova efêmera da insanidade. Sou brisa passageira, idéia fixa, presença ausente, olhar atento e mente honestamente mentirosa. Sou lá e cá, Ariel e Caliban, sobriedade entorpecida pelo fardo da existência. Sou cordeiro em pele de lobo, melodia fora do tom e fora do tempo, fora do mundo, fora de si.
Sou, sem mais delongas, algo vago, insubstancial e frágil, que com um bater de asas da imaginação pode partir-se em infinitas facetas.
Definho lentamente, de dores secretas e sofriveis gritos sufocados no peito. Me desfaço em uma rotina blasè e noir, como os raios de sol da nostalgica tarde de outono entrando pela fresta da veneziana... me jogo no sofá antiquado e todo o peso do pensamento que insistentemente me assombra cai sobre (meus ombros? Minha mente?) mim. Minh'alma sublima vagarosa e maldosamente por meus poros e as idéias me soam cada vez mais distantes, longinquas como um oasis de razão em meio ao deserto de incompreensão da minha propria natureza. Meus surtos byronianos florecem pela noite, como soturna vitória-régia, e se vão com o orvalho da manhã, (des)mascarando-me. Tenho outros valores, é bem verdade, e talvez jamais me conforme; tenho outras ambições, e talvez jamais as alcance; tenho outras paixões, e talvez jamais as encontre. E definho...


isso é pra vocês terem uma idéia do que vai aparecer por aqui enquanto isso durar (e eu não apostaria em mais de um mês). Run for your life if you can, little girl!

Alguns avisos de segurança antes do filme

Nossa sala de projeção conta com hidrantes estrategicamente posicionados, luzes de emergência que se acenderão automaticamente em caso de falta de energia e portas anti-pânico corta fogo. Nossa brigada de incêndio altamente qualificada está pronta (sempre me perguntei se eles ficam em algum armário secreto, nunca vi um 'brigueiro' de incêndio) para agir ao menor sinal de fogo. Os textos aqui exibidos são ataques geralmente noturnos, cuja publicação é descabida e deve gerar idéias equivocadas, as quais lamento, mas não posso impedir. Não sou complexado, não sou deprimido e nem suicida. Só me sinto na obrigação de registrar o que julgo merecedor de ser registrado fora de mim. Bom filme!