A escola nunca me irritou ou cansou. É verdade que nunca fui um aluno muito aplicado, mas sempre considerei importante saber sobre o mundo que me cerca. Achava a ignorância um mal a ser violentamente combatido, tal era sua disseminação na sociedade. Existi pacientemente na minha carteira por seis longas horas, entre versos e bilhetes e olhares e risadas. Um dia típico para o meu milésimo eu do mês. Cheguei à conclusão, e espero que não tarde demais, de que as pessoas são passageiras: Nossas mudanças de visão e pensamentos nada mais são do que pessoas nascendo e envelhecendo dentro da nossa casca. Nosso exoesqueleto. Não somos, afinal, repugnantes insetos?
O sinal tocou, e com ele veio o futuro. Desligada a lousa multi-mídia, ingerida minha ração, teletransportei-me para casa e deitei. As pessoas já não pensam. Era uma lástima quando a maioria era ignorante, mas a acefalia conformada e paciente é o fim. Antes de dormir costumava repassar mentalmente o dia que se passou. Quando acordei o que me preocupava era o amor. Pela tarde tomei as dores da humanidade frente à alienação e ignorância. E agora, no futuro longínquo, não penso mais. Sei que não penso. Penso que não penso. Há metafísica o bastante em não pensar em nada, é verdade. E dentro de mim morria uma ingênua criança.
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