quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O Homem se gaba
De ser tão racional
Mas ele não passa
De um outro animal

O Homem se apressa
Em consumir gasolina
Mas o diesel não passa
De um tipo de adrenalina

O Homem diz ter criado
Máquinas mil e até o Estado
Mas ambos são tão somente
Armas do homem que mente

Porque no fundo a máquina
Funciona tal qual os homens:
Lubrificantes, porcas, ferrugens
A Criação sempre foi democrática

Os tais impulsos elétricos
Fazem funcionar os cérebros
Mas também giram as correias
As engrenagens e as esteiras

E na verdade o Estado
É apenas uma ilusão
Há homens em comunhão
Onde um é criado
E o outro é patrão?

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Tratado sobre a mecanização da humanidade

Dizem que o que separa o homem do animal é o raciocínio. Não duvido. No entanto, estamos assustadoramente perto das máquinas. Nós criamos as máquinas. Dizem que Deus nos criou à sua imagem e semelhança. Aparentemente a humanidade resolveu brincar de Deus: o Homem, afinal, não é movido a impulsos elétricos? Não funciona por movimentos mecânicos, alavancas e contrações? Não necessita de combustível? Não emperra? Nossos nervos são idênticos a um circuito impresso, nossos músculos e ossos estão para nós exatamente como as engrenagens e pistões estão para uma máquina. Nosso alimento não passa de substâncias necessárias ao funcionamento do todo. Qualquer semelhança com o diesel seria mera coincidência?
Deixemos de lado agora nossas semelhanças com nossas criações, e pensemos: motores movem, turbinas geram, pistões comprimem. Se somos uma máquina, qual seria nossa função? Retomando a introdução, acho que não há explicação melhor senão a seguinte: raciocinar. Somos máquinas feitas para pensar, para elaborar. Em nossa evolução acabamos criando estruturas que usam nossos princípios, talvez por acidente, talvez por capricho do inconsciente. Talvez por algum motivo substancial. Qualquer que seja o motivo, basta uma breve olhada ao redor para perceber que a maioria dos bilhões de máquinas humanas que povoam nossa imensa fábrica está com algum defeito. Pensar, se já foi algo valorizado, hoje é quase abominado.
As consequências? Nossa fábrica está superaquecida, os setores produtivos estão extremamente mal organizados e distribuídos. De que adianta a esteira onde se apertam os parafusos estar perfeitamente lubrificada se a divisão que rosqueia as porcas está travada? A produção não progride, é simples. E no que consiste a produção humana? Criação intelectual. O mundo como está ficará estagnado até que a fábrica esteja em chamas, algumas partes serem destruídas ou algo similar. Só com o equilíbrio entre todas as etapas é que de fato evoluiremos. Se é uma evolução limitada, não sei. Mas com certeza ela não atingiu seu ápice, nem algo perto dele. Talvez quando terminarmos passemos a outra dimensão, como quem passa de fase em um jogo. Mas aí entramos no domínio da imaginação, e a Igreja sempre estraga essa parte.
Por ora, basta que as partições mais tecnológicas e as menos desenvolvidas se harmonizem de modo que todas as máquinas estimulem seus componentes ao máximo, disparando impulsos elétricos e movimentando suas peças para o futuro. Qual será ele?

domingo, 15 de agosto de 2010

Tratado sobre o comportamento juvenil

Parem! Não podem ver? Não vêem como suas vidas são insignificantes e não vão deixar de ser se continuarem agindo assim? Parem! Percebam que a vida envolve aprendizado, evolução! Estudem, entendam! Não basta ficar bêbado uma vez por semana para aproveitar a existência! Pelo amor de Deus, parem! Observem os valores que vocês adotaram, principalmente no âmbito amoroso! Vejam como suas vidas estão construídas sobre alicerces imorais e como vocês aceitam e acreditam piamente que é assim que deve ser! Repensem o que vocês querem, se é que já o fizeram alguma vez! Parem de agir como pedaços de plástico! Desenvolvam o intelecto, e por favor não acreditem que cultura basta para alimentar o cerébro! Filmes franceses NÃO SÃO o ápice da sua vida, e de que adianta assisti-los se vocês não têm uma gota de criticismo? É igualmente importante saber física e matemática! Compreendam o mundo que os cerca para então tentar entender a si próprios, e PAREM de agir como se entendessem ambos profundamente! Entendam de uma vez por todas que beleza não é lápis no olho e salto alto, não podem ver que não vão a lugar algum desse jeito? Parem de tentar ser amigos de todos e consigam ser amigos de poucos! Definam suas preferências, seus pontos de vista e lapidem-os! Compreendam os dos outros! Discutam-os! Parem e percebam como um círculo social pode evoluir a partir do momento em que as pessoas nele incluídas elevam seu nível intelectual e tornam as interações muito mais produtivas! Percebam como as pessoas pelas quais vocês se atraem (e digo isso para ambos os lados) são medíocres como você, falando besteiras com ar de sabedoria e discutindo assuntos que não lhes tocam, usando palavras que lhes são estranhas, para passar uma imagem que lhes é distorcida Parem, antes que seja tarde, e mudem!

sábado, 14 de agosto de 2010

Batem em retirada os retirantes
Do purgatório nordestino onde
Nada vai, nada vem, tudo seca
Tudo fica e espera, quieto, esperto
Vão os candangos (futuro da nação?)
O soldado é amarelo
O horizonte é amarelo
Assim como o amarelão
O sol que racha
O sol(o) deste Sertão
Bate forte, incontinenti
Ad infinitum, porque não?
Cangaço, calangos, capangas
Estão todos esses cansados
Esperando a chuva do verão

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Não, porque é nois, né

Ó aguardente, mal da minha vida!
Por quantas noites frias e bravias
Não me arrastei de maneira sofrida
Jogado no chão, vomitando em pias?

Quantas árvores não chamei de "querida"
Ou grossos mulherões vi muitíssimo esguias
Fico como Moisés chegando à terra prometida
Tudo se releva com o álcool - até as estrias!

Brindemos à isso, aquilo ou tudo junto
Depois do terceiro brinde não importa
Nascimento, batismo, velório de defunto

A linha na qual ando se constrói toda torta
O quatro que faço é todo assim disjunto
E minha fala, meio enrolada, meio morta.