terça-feira, 17 de agosto de 2010

Tratado sobre a mecanização da humanidade

Dizem que o que separa o homem do animal é o raciocínio. Não duvido. No entanto, estamos assustadoramente perto das máquinas. Nós criamos as máquinas. Dizem que Deus nos criou à sua imagem e semelhança. Aparentemente a humanidade resolveu brincar de Deus: o Homem, afinal, não é movido a impulsos elétricos? Não funciona por movimentos mecânicos, alavancas e contrações? Não necessita de combustível? Não emperra? Nossos nervos são idênticos a um circuito impresso, nossos músculos e ossos estão para nós exatamente como as engrenagens e pistões estão para uma máquina. Nosso alimento não passa de substâncias necessárias ao funcionamento do todo. Qualquer semelhança com o diesel seria mera coincidência?
Deixemos de lado agora nossas semelhanças com nossas criações, e pensemos: motores movem, turbinas geram, pistões comprimem. Se somos uma máquina, qual seria nossa função? Retomando a introdução, acho que não há explicação melhor senão a seguinte: raciocinar. Somos máquinas feitas para pensar, para elaborar. Em nossa evolução acabamos criando estruturas que usam nossos princípios, talvez por acidente, talvez por capricho do inconsciente. Talvez por algum motivo substancial. Qualquer que seja o motivo, basta uma breve olhada ao redor para perceber que a maioria dos bilhões de máquinas humanas que povoam nossa imensa fábrica está com algum defeito. Pensar, se já foi algo valorizado, hoje é quase abominado.
As consequências? Nossa fábrica está superaquecida, os setores produtivos estão extremamente mal organizados e distribuídos. De que adianta a esteira onde se apertam os parafusos estar perfeitamente lubrificada se a divisão que rosqueia as porcas está travada? A produção não progride, é simples. E no que consiste a produção humana? Criação intelectual. O mundo como está ficará estagnado até que a fábrica esteja em chamas, algumas partes serem destruídas ou algo similar. Só com o equilíbrio entre todas as etapas é que de fato evoluiremos. Se é uma evolução limitada, não sei. Mas com certeza ela não atingiu seu ápice, nem algo perto dele. Talvez quando terminarmos passemos a outra dimensão, como quem passa de fase em um jogo. Mas aí entramos no domínio da imaginação, e a Igreja sempre estraga essa parte.
Por ora, basta que as partições mais tecnológicas e as menos desenvolvidas se harmonizem de modo que todas as máquinas estimulem seus componentes ao máximo, disparando impulsos elétricos e movimentando suas peças para o futuro. Qual será ele?

Um comentário:

  1. Esse texto me lembrou A cidade e as serras e A cidade e as serras me lembra você -s

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