quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Ao Sr. Examinador

O Ministério do Absurdo adverte, a todos interessados, que já não é mais possível! Se foram, ralo abaixo, todas as possibilidades, é verdade. Se esvaíram as chances, se esgotaram as oportunidades. Tudo aquilo que podia ser já não é mais. Não é, não será, nunca foi. E o que foi, que pena, estava errado: estava errado existir, pensar. A literatura e a filosofia não passaram de genocídio frio e cruel, camuflado, sinistro, lento. Só se devia ser feliz e, contra si, a humanidade definiu a inteligência. A cognição. O avanço. Ah, mas que infortúnio foi essa idéia. O homem quis explicar, coitado. Explicar o que? Não há o que ser explicado. Não há o que ser entendido. Não há nada, além do nada. A piada coletiva, a Igreja, tentou explicar por poucos o nada para muitos. O mais engraçado é que aparentemente deu certo. Deixa eles. Aí o Homem foi indo, sempre meio capenga, e no meio da esperteza internacional, o Homem até que não estava tão mal. Mas um dia, com suficiente sofrimento e reflexão, se percebeu o Grande Mal: o Mundo. Ah, mundo... O mundo era assim, na mente do Homem que pensou: era ridiculamente controverso, ao passo que dava a entender que quem mais soubesse sobre ele melhor seria e ao mesmo tempo enlouquecia quem o ia entendendo, sempre aos poucos, sempre meio na corda bamba. O Mundo não dava pra saber se era o mesmo para todos os Homens, não dava pra saber o que era o Mundo. Não dava pra saber se se sabia alguma coisa, mas dava pra saber cada vez mais que não se devia saber nada. Porque quem ia sabendo, ou acreditando que sabia, ia ficando meio esquisito, meio cinza, meio murcho, até que um dia morria. E não teve um único que não morresse. A questão é que tinham alguns Homens que se faziam de entendedores tão bem, que os outros Homens acreditavam que eles entendiam alguma coisa. E foi de mentira em mentira que se construiram máquinas monstruosas, e os homens horrendos iam acreditando entender cada vez mais o Mundo sem saber o que era entender. E na mente do homem que pensou, após esse interlúdio explicativo, se entendeu de mentirinha outra coisa: quanto mais se entendia, menos feliz se era. E era de tristeza que se morria. Aí o Homem que pensou pensou: se se morre de pensar, e é tudo meio esquisito, porque a gente pensa?

E é esse o chamado de greve geral que se encontra afixado em cada um dos meus neurônios, e em cada esquina perigosa da minha consciência.

Nenhum comentário:

Postar um comentário